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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

7º ANO - DEBAIXO DA PONTE - CARLOS DRUMOND DE ANDRADE

 

Moravam debaixo da ponte. Oficialmente, não é lugar onde se more, porém eles moravam. Ninguém lhes cobrava aluguel, imposto predial, taxa de condomínio; a ponte é de todos, na parte de cima; de ninguém, na parte de baixo. Não pagavam conta de luz e gás, porque luz e gás não consumiam. Não reclamavam contra falta d’água, raramente observada por baixo de pontes. Problema de lixo não tinham; podia ser atirado em qualquer parte, embora não conviesse atirá-lo em parte alguma, se dele vinham muitas vezes o vestuário, o alimento, objetos de casa. Viviam debaixo da ponte, podiam dar esse endereço a amigos, recebê-los, fazê-los desfrutar comodidades internas da ponte.

            À tarde surgiu precisamente um amigo que morava nem ele mesmo sabia onde, mas certamente morava: nem só a ponte é lugar de moradia para quem não dispõe de outro rancho.

            Há bancos confortáveis nos jardins, muito disputados; a calçada, um pouco menos propícia; a cavidade na pedra, o mato. Até o ar é uma casa, se soubermos habitá-lo, principalmente o ar da rua. O que morava não se sabe aonde vinha visitar os de debaixo da ponte e trazer-lhes uma grande posta de carne.

            Nem todos os dias se pega uma posta de carne. Não basta procurá-la; é preciso que ela exista, o que costuma acontecer dentro de certas limitações de espaço e de lei. Aquela vinha até eles, debaixo da ponte, e não estavam sonhando, sentiam a presença física da ponte, o amigo rindo diante deles, a posta bem pegável, comível. Fora encontrada no vazadouro, supermercado para quem sabe frequentá-lo, e aqueles três o sabiam, de longa e olfativa ciência.

            Comê-la crua ou sem tempero não teria o mesmo gosto. Um de debaixo da ponte saiu à caça de sal. E havia sal jogado a um canto de rua, dentro da lata. Também o sal existe sob determinadas regras, mas pode tornar-se acessível conforme as circunstâncias. E a lata foi trazida para debaixo da ponte. Debaixo da ponte os três prepararam comida. Debaixo da ponte a comeram. Não sendo operação diária, cada um saboreava duas vezes: a carne e a sensação de raridade da carne. E iriam aproveitar o resto do dia dormindo (pois não há coisa melhor, depois de um prazer, do que o prazer complementar do esquecimento), quando começaram a sentir dores.

            Dores que foram aumentando, mas podiam ser atribuídas ao espanto de alguma parte do organismo de cada um, vendo-se alimentado sem que lhe houvesse chegado notícia prévia de alimento. Dois morreram logo, o terceiro agoniza no hospital.

            Dizem uns que morreram da carne, dizem outros que do sal, pois era soda cáustica. Há duas vagas debaixo da ponte.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

7º ANO - A BORBOLETA E O CASULO/ A LIÇÃO DA BORBOLETA

 

A Borboleta e o Casulo

Quando a lagarta, tornada crisálida, concluiu praticamente a sua transformação em lepidóptero, resta-lhe passar uma prova para se tornar verdadeiramente borboleta. Tem de conseguir romper o casulo no seio do qual se operou a transformação, a fim de se libertar dele e iniciar o seu voo.

Se a lagarta teceu o seu casulo pouco a pouco, progressivamente, a futura borboleta em compensação não pode libertar-se dele da mesma forma, procedendo progressivamente. Desta vez tem de congregar força suficiente nas asas para conseguir romper, de uma assentada, a sua gola de seda.

É precisamente graças a esta última prova e à força que ela exige que a borboleta acumule nas suas jovens asas, que esta desenvolve a musculatura de que terá necessidade depois para voar.

Quem ignorar este dado importante e, imaginando ‘ajudar’ uma borboleta a nascer, romper o casulo em seu lugar, assistirá ao nascimento de um lepidóptero totalmente incapaz de voar. Esta não terá conseguido utilizar a resistência da sua sedosa prisão para construir a força de que teria necessidade para lançar-se seguidamente no céu.

 

A lição da borboleta

Um dia, uma pequena abertura apareceu num casulo e um homem ficou observando o esforço da borboleta para fazer com que o seu corpo passasse por ali e ganhasse a liberdade. Por um instante, ela parou, parecendo que tinha perdido as forças para continuar. Então, o homem decidiu ajudar e, com uma tesoura, cortou delicadamente o casulo. A borboleta saiu facilmente. Mas, seu corpo era pequeno e tinha as asas amassadas. O homem continuou a observar a borboleta porque esperava que, a qualquer momento, as asas dela se abrissem e ela saísse voando.

Nada disso aconteceu. A borboleta ficou ali rastejando, com o corpo murcho e as asas encolhidas e nunca foi capaz de voar! O homem, que em sua gentileza e vontade de ajudar, não compreendeu que o casulo apertado e o esforço eram necessários para a borboleta vencer essa barreira. Era o desafio da natureza para mantê-la viva. O seu corpo se fortaleceria e ela estaria pronta para voar assim que se libertasse do casulo.

Algumas vezes, o esforço é tudo o que precisamos na vida. Se Deus nos permitisse passar pela vida sem obstáculos, não seríamos como somos hoje. A força vem das dificuldades, a sabedoria, dos problemas que temos que resolver. A prosperidade, do cérebro e músculos para trabalhar. A coragem vem do perigo para superar e, às vezes, a gente se pergunta: “não recebi nada do que pedi a Deus”. Mas, na verdade, recebemos tudo o que precisamos. E nem percebemos.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

6º ANO - CRÔNICA: MAIS UM ANIMAL - JOSÉ ELIAS

 

Chico chegou da rua com um gatinho muito preto e muito magro debaixo do braço.

– Vai me dizer que já arrumou mais dor de cabeça pra mim – disse-lhe a mãe.

– Olha pra ele, mãe, tão bonitinho, tão magrinho. Ocê não tem dó dele?

– Dó eu tenho, mas não quero saber de mais bicho em casa. O quintal já tá parecendo zoológico.

– A senhora mesmo vive rezando pra São Francisco, o santo que acolhia os bichos…

– Não é por ser devota de São Francisco que vou transformar minha casa em zoológico. Pode dar fim neste gato, não quero mais saber. Chegam muito os três que vivem embaraçando nas pernas da gente.

– Olha pra ele, mãe. Só ele, tenha piedade do coitado. Não deve ter dono, nem pai, nem mãe, nem irmãozinho.

– Não quero nem olhar.

– Já sei por que não quer: para não pegar amor por ele. Alisa só o pelinho dele, vê como o coitado tá maltratado. Se fosse um angorá, aposto que você ia querer.

– Se fosse um angorá, o dono não deixaria solto na rua.

Chico saiu alisando o pelo do gatinho, triste por ter que se livrar dele. Sentou no alpendre e conversou com o gatinho:

– Você tem que compreender que a casa não é minha, se fosse…No fundo, ela tem razão. Tenho três cachorros, três gatos, um papagaio, meia dúzia de galinhas, uma já ninhada de cinco pintinhos; um casal de patos, um porquinho da Índia, um coelhinho orelhudo … Sem contar, lá no sítio, o bezerro, o potrinho e a promessa que meu pai fez de me comprar cabritos, bodes e cabras. Já vi que ocê não compreende, que quer mesmo ficar. Vamos lá dentro tentar de novo? Vamos?

– Mãe, você…

– Outra vez com esse gato?

– Eu só queria um pedaço de pão molhado no leite para dar pra ele. Depois de matar a fome, ele vai embora. Vou jogar o gatinho bem longe daqui de casa.

A mãe deu um pedaço de pão e um pires com leite. Chico começou a matar a fome do novo amigo.

Pão comido, leite lambido, a mãe falou:

– Agora que ele comeu, pode dar o fora. E trate de levar esse gato pra bem longe.

(...)

- Mãe, já arrumei um nome pra ele. Quer saber qual é?

- Não quero saber nada, quero que suma com ele.

- Pus o nome nele de Faquir. Coitado, tão magro, faminto, sem família, infeliz. Mãe? Ocê ouviu o nome dele?

- Ouvi. Tá bem escolhido, mas pode levar o seu Faquir daqui logo, logo.

- Mãe, vamos fazer um negócio?

- Que negócio?

- Meu aniversário está perto. Ocê lembra o que foi que pedi de aniversário?

- Pediu pro seu pai comprar um cavalo. E daí?

- Eu troco o cavalo pelo Faquir. Ocê topa? Ele é tão infeliz, tão magrinho, sem ninguém por ele. O cavalo fica pro ano que vem. Feito, hem, mãe?

A mãe não aguentou, olhou com muito amor para o menino, passou a mão nos cabelos dele e disse-lhe:

- Pode, Chico. Mas que seja o último bicho que você traz pra casa. Tá certo assim?

- Tá, tá certo, mãe. Ocê é joia mesmo!

E bem baixinho no ouvido de Faquir, disse-lhe:

- Eu não falei que ela acabava cedendo? Ela é joia!

 

3º ANO - ESCOLHA DO TEMA - MONOGRAFIA

 ESCOLHA DO TEMA - 3º ANO - MONOGRAFIA


Ao iniciar a monografia o primeiro passo é escolher o assunto. Depois de escolhido sobre o que se vai falar é importante saber que, toda pesquisa necessita ter uma pergunta, que fará com que a busca da resposta dê andamento ao trabalho. Por exemplo: uma biografia serve para se fazer uma monografia? Se for somente para relatar os acontecimentos da vida da pessoa, não. Mas se houver um questionamento envolvendo aquele indivíduo e cuja resposta não está totalmente clara, então é possível.

Toda questão que começa com “A importância de/da.... para a/o....” já está fora do padrão que se deseja para iniciar uma pesquisa.

É sempre bom começar o questionamento com o pronome “Como” e não utilizar afirmativas envolvendo palavras que não questionam; que não perguntam; que não permitem a busca de respostas e ampliação do conhecimento.   

O uso do pronome interrogativo “Por que...” também pode dar possibilidade de se iniciar uma pesquisa.

Para fazer a sua escolha observe o que você gosta. Não se fixe somente na parte de lazer da sua vida. Observe a profissão que deseja seguir. Faça uma lista e depois veja dentre esses aspectos que você selecionou, qual deles tem possibilidade de se fazer uma pesquisa.

Sugestão de temas:

Água

– Como é possível reverter a contaminação de rios e oceanos?

- Como regiões afetadas pela seca podem sobreviver com a escassez de água?

- Por que não se encontra distribuição igualitária de água?

Fontes de energia

- Como os países se preparam para a utilização de novas fontes de energia?

- Como utilizar fontes renováveis de energia sem afetar o meio ambiente?

Alimentos

- Como encontrar soluções para a fome no mundo?

- Como conciliar produção de alimentos e manutenção do meio ambiente?

- Por que a alimentação não impede a existência de doenças?


Ciência

- Como as viagens espaciais influenciam a vida cotidiana?

- Como alguns insetos resistem à ação do tempo?

- Por que a cura de doenças não se concretiza?


Esses são apenas exemplos de como é possível ir a busca de temas para pesquisa.

Não se esqueça de que uma boa escolha de tema já influencia a aprovação do seu trabalho. A questão-problema é de fundamental importância para que se obtenha sucesso em sua monografia.

Boa sorte!


6º ANO - RESUMO DO LIVRO "ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS" - LEWIS CARROLL

 Resumo do livro: “Alice no país das maravilhas” – Lewis Carroll (Charles Lutwidge Dodgson - 1865)

O livro conta a história de Alice, uma menina curiosa que segue um Coelho Branco de colete e relógio, mergulhando sem pensar na sua toca. A protagonista é projetada para um novo mundo, repleto de animais e objetos antropomórficos, que falam e se comportam como seres humanos.

No País das Maravilhas, Alice se transforma, vive aventuras e é confrontada com o absurdo, o impossível, questionando tudo o que aprendeu até ali.

A menina acaba fazendo parte de um julgamento sem sentido e sendo condenada à morte pela Rainha de Copas, tirana que mandava cortar a cabeça de todos que a incomodavam. Quando é atacada pelos soldados da Rainha, Alice acorda, descobrindo que toda a viagem se tratou de um sonho.

 

Trecho do livro “Alice no país das maravilhas”

Capítulo 1 - Pela toca do Coelho

Alice estava começando a ficar muito cansada de estar sentada ao lado da irmã na ribanceira, e de não ter nada que fazer; espiara uma ou duas vezes o livro que estava lendo, mas não tinha figuras nem diálogos, "e de que serve um livro", pensou Alice, "sem figuras nem diálogos?".

Assim, refletia com seus botões (tanto quanto podia, porque o calor a fazia se sentir sonolenta e burra) se o prazer de fazer uma guirlanda de margaridas valeria o esforço de se levantar e colher as flores, quando de repente um Coelho Branco de olhos cor-de-rosa passou correndo por ela.

Não havia nada de tão extraordinário nisso; nem Alice achou assim tão esquisito ouvir o Coelho dizer consigo mesmo: "Ai, ai! Ai, ai! Vou chegar atrasado demais!" (quando pensou sobre isso mais tarde, ocorreu-lhe que deveria ter ficado espantada, mas na hora tudo pareceu muito natural); mas quando viu o Coelho tirar um relógio do bolso do colete e olhar as horas, e depois sair em disparada, Alice se levantou num pulo, porque constatou subitamente que nunca tinha visto antes um coelho com bolso de colete, nem com relógio para tirar de lá, e, ardendo de curiosidade, correu pela campina atrás dele, ainda a tempo de vê-lo se meter a toda a pressa numa grande toca de coelho debaixo da cerca.

No instante seguinte, lá estava Alice se enfiando na toca atrás dele, sem nem pensar de que jeito conseguiria sair depois.

Por um trecho, a toca de coelho seguia na horizontal, como um túnel, depois se afundava de repente, tão de repente que Alice não teve um segundo para pensar em parar antes de se ver despencando num poço muito fundo.

Ou o poço era muito fundo, ou ela caía muito devagar, porque enquanto caía teve tempo de sobra para olhar à sua volta e imaginar o que iria acontecer em seguida. Primeiro, tentou olhar para baixo e ter uma ideia do que a esperava, mas estava escuro demais para se ver alguma coisa; depois olhou para as paredes do poço, e reparou que estavam forradas de guarda-louças e estantes de livros; aqui e ali, viu mapas e figuras pendurados em pregos. Ao passar, tirou um pote de uma das prateleiras; o rótulo dizia "geleia de laranja", mas para seu grande desapontamento estava vazio: como não queria soltar o pote por medo de matar alguém, deu um jeito de metê-lo num dos guarda-louças por que passou na queda.

"Bem!" pensou Alice, "depois de uma queda desta, não vou me importar nada de levar um trambolhão na escada! Como vão me achar corajosa lá em casa! Ora, eu não diria nadinha, mesmo que caísse do topo da casa!" (O que muito provavelmente era verdade.)

...

Personagens principais

Alice - menina inteligente e observadora que faz uma viagem para o País das Maravilhas, um mundo diferente do que ela conhece. Ela simboliza a curiosidade e a imaginação.

Coelho Branco - está sempre atrasado. Usa um colete e tem um relógio de bolso. Ele representa a passagem do tempo.

Lagarta – é fumante de narguilé, aconselha a menina a consumir um cogumelo que poderá fazê-la aumentar ou diminuir de tamanho a qualquer momento. Simboliza a capacidade de aceitarmos nossas mudanças e transformações ao longo da vida.

Gato de Cheshire - Sorri o tempo todo, aparece para indicar o caminho à Alice, mas a confunde mais. Com ele, Alice percebe que há certa dose de insanidade em todos os personagens.

Chapeleiro Louco – Sempre está preso à hora do chá. Não quer que ela se sente à mesa e provoca irritações com enigmas e poemas sem sentido. Ele chama a si mesmo de louco. Seu personagem representa o abandono das normas sociais e das regras de etiqueta associadas ao jeito de vida britânico daquele tempo.

Rainha de Copas - é a autoridade máxima do país, amedronta todos os personagens e os força a obedecer todas as suas ordens e satisfazer os seus caprichos. Representa a injustiça do sistema monárquico, mostrando a tirania e o abuso de poder.

 (baseado no site: https://www.culturagenial.com/livro-alice-no-pais-das-maravilhas-lewis-carroll/)

https://www.objetivo.br/arquivos/livros/alice_no_pais_das_maravilhas.pdf

8º ANO - CARTA PARA MARIA DA GRAÇA - PAULO MENDES CAMPOS

 

Agora, que chegaste à idade avançada de quinze anos, Maria da Graça, eu te dou este livro: Alice no País das Maravilhas. Este livro é doido, Maria. Isto é, o sentido dele está em ti. Escuta: se não descobrires um sentido na loucura, acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade. A realidade, Maria, é louca. 

Nem o papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: “Fala a verdade, Dinah, já comeste um morcego?” Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. “Quem sou eu no mundo?” Essa indagação perplexa é o lugar comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrastes essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. 

Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira. A sozinhez (esquece essa palavra feia que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: “Estou tão cansada de estar aqui sozinha!” O importante é que conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço! Só as criaturas humanas (nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados) conseguem abrir uma porta bem fechada, e vice versa, isto é, fechar uma porta bem aberta. 

Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial e temos a presunção petulante de esperar dela grandes consequências. Quando Alice comeu o bolo, e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece, geralmente, às pessoas que comem bolo. Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser grave. A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes ao dia: “Oh, I beg your pardon! (eu imploro o seu perdão) ”. Pois viver é falar de corda em casa de enforcado.

Por isso te digo, para a tua sabedoria de bolso: se gostas de gato, experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: “Gostarias de gatos se fosse eu?”. Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados, todos vivem apostando corrida. 

São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos escondidos, que, quando os atletas chegam exaustos a um ponto, costumam perguntar: “A corrida terminou! Mas quem ganhou?” É bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não sabe quem venceu. Se tiveres que ir a algum lugar, não te preocupes com a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre aonde quiseres, ganhaste. Disse o ratinho: “Minha história é longa e triste!” Ouvirás isso milhares de vezes. Como ouvirás a terrível variante: “Minha vida daria um romance.” Ora, como todas as vidas vividas até o fim são longas e tristes, e como todas as vidas dariam romances, pois o romance é só um jeito de contar um vida, foge, polida mas energicamente, dos homens e mulheres que suspiram e dizem: “Minha vida daria um romance!” 

Sobretudo dos homens. Uns chatos, irremediáveis, Maria. Os milagres acontecem sempre na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de Alice: “Devo estar diminuindo de novo”. Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente. E escuta essa parábola perfeita: Alice tinha diminuído tanto de tamanho que tomou um camundongo como hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. 

Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte. É isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e de rinocerontes que parecem camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar em disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nossos domínios disfarçado de camundongo. E como tomar o pequeno por grande e o grande por pequeno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom humor. 

Toda pessoa deve ter três caixas para guardar humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa média para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para as grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de dor ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. 

Cuidado Maria, com as grandes ocasiões. Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um lago, pensava: “Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas”. Conclusão: a própria dor deve ter a sua medida: é feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira da nossa dor, Maria da Graça.

8º ANO - DAS VANTAGENS DE SER BOBO - CLARICE LISPECTOR

 

DAS VANTAGENS DE SER BOBO - Clarice Lispector

Prof.ª Mariza – Sala de Leitura

 

O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski**.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e, portanto estar tranquilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.

Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: **"Até tu, Brutus?”

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!

Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás, não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!

Bobo é **Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

** Dostoiévski era contra a servidão de classe, foi preso em 23/04/1849, e depois de oito meses recebeu sentença de morte por fuzilamento. É considerado o pai do existencialismo, na literatura. O existencialismo é uma corrente filosófica de pensamento, que destaca a importância da existência do indivíduo.

** A frase famosa (**"Até tu, Brutus?”)foi falada por Julio Cesar no momento de sua morte. O ditador tinha muitos inimigos no senado romano. No ano de 44 A.C. foi planejado o seu assassinato e entre os conspiradores estava Marco Júnio Bruto, ou Brutus, seu enteado, que foi reconhecido pelo padrasto durante o atentado.

**Chagall – pintor russo. Suas obras trazem lembranças de familiares e da cidade onde nasceu, carregadas de fantasia e elementos oníricos (diz respeito à natureza dos sonhos).

6º ANO - O DONO DA BOLA - RUTH ROCHA

 

O DONO DA BOLA  – Profª MARIZA – SALA DE LEITURA

 

O nosso time estava cheio de amigos. O que nós não tínhamos era a bola de futebol. Só bola de meia, mas não é a mesma coisa.

Bom mesmo é bola de couro, como a do Caloca.

Mas, toda vez que nós íamos jogar com Caloca, acontecia a mesma coisa. E era só o juiz marcar qualquer falta do Caloca que ele gritava logo:

– Assim eu não jogo mais! Dá aqui a minha bola!

– Ah, Caloca, não vá embora, tenha espírito esportivo, jogo é jogo…

– Espírito esportivo, nada! – berrava Caloca. – E não me chame de Caloca, meu nome é Carlos Alberto!

E assim, Carlos Alberto acabava com tudo que era jogo.

A coisa começou a complicar mesmo, quando resolvemos entrar no campeonato do nosso bairro. Nós precisávamos treinar com bola de verdade para não estranhar na hora do jogo.

Mas os treinos nunca chegavam ao fim. Carlos Alberto estava sempre procurando encrenca:

– Se o Beto jogar de centroavante, eu não jogo!

– Se eu não for o capitão do time, vou embora!

– Se o treino for muito cedo, eu não trago a bola!

E quando não se fazia o que ele queria, já sabe, levava a bola embora e adeus, treino.

Catapimba, que era o secretário do clube, resolveu fazer uma reunião:

– Esta reunião é para resolver o caso do Carlos Alberto. Cada vez que ele se zanga, carrega a bola e acaba com o treino.

Carlos Alberto pulou, vermelhinho de raiva:

– A bola é minha, eu carrego quantas vezes eu quiser!

– Pois é isso mesmo! – disse o Beto, zangado. – É por isso que nós não vamos ganhar campeonato nenhum!

– Pois, azar de vocês, eu não jogo mais nessa droga de time, que nem bola tem.

E Caloca saiu pisando duro, com a bola debaixo do braço.

Aí, Carlos Alberto resolveu jogar bola sozinho. Nós passávamos pela casa dele e víamos. Ele batia bola com a parede. Acho que a parede era o único amigo que ele tinha. Mas eu acho que jogar com a parede não deve ser muito divertido.

Porque, depois de três dias, o Carlos Alberto não aguentou mais. Apareceu lá no campinho.

– Se vocês me deixarem jogar, eu empresto a minha bola.

Carlos Alberto estava outro. Jogava direitinho e não criava caso com ninguém.

E, quando nós ganhamos o jogo final do campeonato, todo mundo se abraçou gritando:

– Viva o Estrela-d’Alva Futebol Clube!

– Viva!

– Viva o Catapimba!

– Viva!

– Viva o Carlos Alberto!

– Viva!

Então o Carlos Alberto gritou:

– Ei, pessoal, não me chamem de Carlos Alberto! Podem me chamar de Caloca!

 

8º ANO - A COISA

 

A Coisa - (Desconheço a autoria desta coisa) – Profª Mariza – Sala de Leitura

A palavra "coisa" é um Bombril do idioma. Tem mil e uma utilidades. É aquele tipo de termo-muleta ao qual a gente recorre sempre que nos faltam palavras para exprimir uma ideia. Coisas do português.

Gramaticalmente, coisa pode ser substantivo, adjetivo, advérbio. Também pode ser verbo: o Houaiss registra a forma "coisificar". “E no Nordeste há coisar”: "Ô seu coisinha, você já coisou aquela coisa que eu mandei você coisar?".

Na literatura, a coisa é coisa antiga. Antiga, mas modernista: Oswald de Andrade escreveu a crônica "O Coisa" em 1943.

”A Coisa" é título de romance de Stephen King.

Simone de Beauvoir escreveu "A Força das Coisas", e Michel Foucault, "As Palavras e as Coisas."

Em Minas Gerais, todas as coisas são chamadas de trem. Menos o trem, que lá é chamado de "a coisa". A mãe está com a filha na estação, o trem se aproxima e ela diz: "Minha filha, pega os trem que lá vem a coisa!".

Devido lugar: "Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça...". A garota de Ipanema era coisa de fechar o Rio de Janeiro.

"Mas se ela voltar, se ela voltar / Que coisa linda / Que coisa louca." Coisas de Jobim e de Vinicius, que sabiam das coisas.        

Sampa também tem dessas coisas (coisa de louco!), seja quando canta "Alguma coisa acontece no meu coração", de Caetano Veloso, ou quando vê o Show de Calouros, do Silvio Santos (que é coisa nossa).

Em 1997, a NASA lançou a Missão MarsPathfinder, enviando um robô para explorar Marte. O mecanismo foi programado para ser acionado a partir do som de uma música e a escolhida foi um samba de Jorge Aragão/Almir Guineto/Luís Carlos da Vila. Assim, o robô da NASA, foi "acordado" com a música: "Ô coisinha tão bonitinha do pai...". Lembram?

Coisa não tem sexo: pode ser masculino ou feminino. Coisa-ruim é o capeta. Coisa boa é a Juliana Paes. Nunca vi coisa assim!

Coisa de cinema! "A Coisa" virou nome de filme de Hollywood, que tinha o "seu Coisa" no recente Quarteto Fantástico. Extraído dos quadrinhos, na TV o personagem ganhou também desenho animado, nos anos 70. E no programa “Casseta e Planeta, Urgente!” Marcelo Madureira faz o personagem "Coisinha de Jesus".

Coisa também não tem tamanho. Na boca dos exagerados, "coisa nenhuma" vira "coisíssima". Mas a coisa tem história na MPB. No II Festival da Música Popular Brasileira, em 1966, estava na letra das duas vencedoras: Disparada, de Geraldo Vandré: "Prepare seu coração / Pras coisas que eu vou contar", e A Banda, de Chico Buarque: "Pra ver a banda passar / Cantando coisas de amor". Naquele ano do festival, no entanto, a coisa estava preta (ou melhor, verde-oliva). E a turma da Jovem Guarda não estava nem aí com as coisas: "Coisa linda / Coisa que eu adoro".

Cheio das coisas. “As mesmas coisas”, “Coisa bonita”, “Coisas do coração”, “Coisas que não se esquece”, “Diga-me coisas bonitas’, “Tem coisas que a gente não tira do coração”. Todas essas coisas são títulos de canções interpretadas por Roberto Carlos, o rei das coisas. Como ele, uma geração da MPB era preocupada com as coisas.

Para Maria Bethânia, o diminutivo de coisa é uma questão de quantidade afinal, "são tantas coisinhas miúdas".

"Todas as Coisas e Eu" é título de CD de Gal. "Esse papo já tá qualquer coisa... Já qualquer  coisa doida dentro mexe." Essa coisa doida é uma citação da música "Qualquer Coisa", de Caetano, que canta também: "Alguma coisa está fora da ordem."

Por essas e por outras, é preciso colocar cada coisa no devido lugar. Uma coisa de cada vez, é claro, pois uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa. E tal coisa, e coisa e tal.

O cheio de coisas é o indivíduo chato, pleno de não-me-toques. O cheio das coisas, por sua vez, é o sujeito estribado. Gente fina é outra coisa.

Para o pobre, a coisa está sempre feia: o salário-mínimo não dá pra coisa nenhuma.

A coisa pública não funciona no Brasil. Desde os tempos de Cabral. Político quando está na oposição é uma coisa, mas, quando assume o poder, a coisa muda de figura. Quando se elege, o eleitor pensa: Agora a coisa vai. Coisa nenhuma! A coisa fica na mesma. Uma coisa é falar; outra é fazer. Coisa feia! O eleitor já está cheio dessas coisas!

Se você aceita qualquer coisa, logo se torna um coisa qualquer, um coisa-à-toa. Numa crítica feroz a esse estado de coisas, no poema "Eu, Etiqueta", Drummond radicaliza: "Meu nome novo é coisa. Eu sou a coisa, coisamente." E, no verso do poeta, coisa vira "cousa".

Se as pessoas foram feitas para ser amadas e as coisas, para serem usadas, por que então nós amamos tanto as coisas e usamos tanto as pessoas?

Bote uma coisa na cabeça: as melhores coisas da vida não são coisas. Há coisas que o dinheiro não compra: paz, saúde, alegria e outras cositas más.       

Mas, "deixemos de coisa, cuidemos da vida, senão chega a morte ou coisa parecida", cantarola Fagner em Canteiros, baseado no poema Marcha, de Cecília Meireles, uma coisa linda.

Por isso, faça a coisa certa e não esqueça o grande mandamento: Amarás a Deus sobre todas as coisas.      

Entendeu o espírito da coisa?

 

 


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

7º ANO - CRÔNICA: VISTA CANSADA - OTTO LARA RESENDE

 

Crônica: Vista cansada - Otto Lara Resende

PROFª MARIZA – SALA DE LEITURA

 

Acho que foi o Hemingway quem disse que olhava cada coisa à sua volta como se a visse pela última vez. Pela última ou pela primeira vez? Pela primeira vez foi outro escritor quem disse. Essa ideia de olhar pela última vez tem algo de deprimente. Olhar de despedida, de quem não crê que a vida continua, não admira que o Hemingway tenha acabado como acabou.

Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta é só isto: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não - vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio.

Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê. Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall do prédio do seu escritório. Lá estava sempre, pontualíssimo, o mesmo porteiro. Dava-lhe bom-dia e às vezes lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer.

Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? Não fazia a mínima ideia. Em 32 anos, nunca o viu. Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se um dia no seu lugar estivesse uma girafa, cumprindo o rito, pode ser também que ninguém desse por sua ausência. O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos.

Uma criança vê o que o adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de fato, ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher, isso existe às pampas. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.